Envelhecimento da população, informalidade crescente e uma juventude cada vez mais distante do sistema contributivo estão acelerando um cenário já preocupante: o avanço do déficit da Previdência Social. Em 2024, o rombo chegou a impressionantes R$ 416,8 bilhões, um crescimento de 60% em relação a 2015. A combinação de fatores demográficos e econômicos contribui para o desgaste do sistema. De um lado, há mais pessoas se aposentando e vivendo mais; do outro, uma base menor de contribuintes ativos e formais. Com isso, os impactos recaem diretamente sobre o orçamento público, comprometendo investimentos essenciais, como infraestrutura e serviços básicos.
Para especialistas, esse desequilíbrio tem raízes claras. Olha só: mudanças no mercado de trabalho, como o avanço da informalidade e da chamada “uberização”, têm afastado jovens da contribuição regular. É o caso de Yuri Vargas Azevedo, motoboy de 21 anos, que prefere investir parte do salário em produtos como CDB e Tesouro Direto a contribuir com o INSS. Como ele, muitos da faixa de 20 a 29 anos têm deixado de contribuir: a taxa caiu de 66,9% para 64,1% entre 2012 e 2023. Em contrapartida, a população acima dos 30 anos apresentou ligeira alta. O agravante é que o número de jovens informais segue aumentando, especialmente entre os 18 e 24 anos, o que pressiona ainda mais o sistema previdenciário.
Além da demografia, regras como o reajuste do salário mínimo, que influencia os benefícios previdenciários, aumentam o custo da máquina pública. O consultor econômico Raul Velloso destaca que o envelhecimento da população ativa sem o devido aumento das contribuições tende a agravar o cenário. Já o pesquisador Fabio Giambiagi defende uma nova reforma, citando a necessidade de rever a idade mínima, aposentadoria rural e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). O alerta está dado: projeções do governo apontam que, até 2100, o déficit do INSS pode chegar a impressionantes 11,59% do PIB. Enquanto países como Países Baixos, Islândia e Dinamarca se antecipam com modelos mais sustentáveis, o Brasil ainda caminha lentamente na direção de ajustes que parecem inevitáveis.
